Um estudo inédito realizado pelo gestor e perito ambiental Valticinez Santiago, da DG - Consultoria de Projetos Ambientais, revelou que a monocultura do eucalipto tem gerado impactos significativos nos recursos hídricos e na economia de assentamentos rurais na região do Bolsão, leste de Mato Grosso do Sul.
Segundo o Campo Grande News, o levantamento identificou a degradação de pelo menos 350 nascentes, causada pela redução da infiltração de água no solo e pelo consumo excessivo dos lençóis freáticos. A pesquisa também apontou que a conversão de áreas produtivas para o plantio de eucalipto levou à queda na produção agrícola e pecuária, resultando no êxodo populacional e na desvalorização econômica dos municípios afetados.
O estudo detalha como o eucalipto afeta a disponibilidade hídrica da região. Durante seu período de crescimento acelerado, a árvore consome grandes volumes de água, reduzindo a recarga dos lençóis subterrâneos e agravando a escassez hídrica. Além disso, parte da água da chuva não chega ao solo devido à evaporação direta, escoamento superficial e drenagem profunda.
Pesquisas internacionais citadas no estudo indicam que uma única árvore de eucalipto pode consumir entre 1,2 e 46,2 litros de água por dia, dependendo da espécie e das condições ambientais. Essa alta demanda hídrica reforça a necessidade de manejo sustentável para evitar danos severos aos recursos naturais.
Além dos problemas ambientais, a expansão da silvicultura resultou em impactos econômicos negativos. Municípios como Três Lagoas, Ribas do Rio Pardo, Brasilândia, Selvíria e Água Clara sofreram redução no rebanho pecuário, queda na arrecadação do ICMS Ecológico e no Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
Mesmo sendo grandes fornecedores de matéria-prima para o setor de celulose, essas cidades não recebem investimentos proporcionais, o que compromete a geração de empregos e a sustentabilidade econômica.
Diante das preocupações levantadas pelo estudo, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul realizará uma audiência pública na próxima terça-feira (12), às 14h, para discutir os impactos da monocultura do eucalipto e a concessão da hidrovia do Rio Paraguai. O encontro será conduzido pelo deputado Renato Câmara (MDB).
Enquanto o debate sobre os impactos ambientais avança, o setor de silvicultura comemora a aprovação da Lei 14.876/2024, que retirou a silvicultura do rol de atividades potencialmente poluidoras. Com isso, o licenciamento ambiental foi facilitado e a exigência do pagamento da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA) foi eliminada.
Para o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, a medida incentiva novos investimentos no setor. Já o presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Paulo Hartung, afirmou que a decisão destrava bilhões em investimentos.
Por outro lado, assentados do Bolsão alertam para a necessidade de políticas públicas de compensação para equilibrar o crescimento econômico com a preservação ambiental. “Sem manejo adequado, o prejuízo para as nascentes e para a produção agrícola pode ser irreversível”, destaca Valticinez Santiago.